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Grande Mídia Marrom contra Jornalismo Investigativo Ético
08 novembro 2006



Mais um capítulo da histórica rivalidade entre Veja (Grupo Abril) e ISTOÉ (Editora Três). Livro lançado em janeiro desse ano, causa extrema polêmica entre personagens da grande mídia com relação aos eventos político-midiáticos ocorridos durante as CPIs no primeiro governo Lula-PT.
Abaixo expomos uma amostra desse caso de rivalidade e perseguição em dois patamares: 1º o da Revista Veja, enquanto instituição e organização comunicativa e 2º o do jornalista Leonardo Attuch, da Revista IstoÉ, imbuído de função investigativa com atuação autônoma. Acompanhe ... ¬

EDITORA ABRILVeja abre fogo contra jornalista
Por Leonardo Attuch em 20/2/2006

empresário Roberto Civita, dono da Editora Abril, deve andar sonhando comigo. Nesta semana, na edição nº 1944 (de 22/2/ 2006), Veja reserva um texto de dois parágrafos para me cobrir de impropérios. Eis alguns deles: "negociante de notícias", "quadrilheiro que deve satisfações à polícia", autor de um "panfleto ignominioso", "novelista" e profissional "à venda". Além disso, o texto da Veja – com o título "O mais vendido" (página 112) – é pontuado por expressões como "fraude", "desonesto" e "indecoroso", entre outras tantas palavras nada lisonjeiras.
Aparentemente, o ataque da revista Veja é uma reação tardia ao livro que publiquei no início de janeiro com o título A CPI que abalou o Brasil – os segredos do PT e os bastidores da imprensa (Editora Futura, São Paulo, 2006). Nele, relato detalhes do caixa 2 montado pelo PT em 2002 e também revelo como tem sido o comportamento de alguns órgãos de imprensa na cobertura da crise política atual.
No livro, menciono vários profissionais da Abril, mas de forma objetiva e factual. Não há ofensa. A minha moeda é a verdade jornalística. A deles, a calúnia. Eis alguns personagens citados no livro:
** Roberto Civita – Revelo como o dono da Abril teve encontros secretos com dois tesoureiros do PT – Delúbio Soares e Ivan Guimarães – em 2004, o ano em que se discutia o chamado Pró-Mídia, um programa de socorro a empresas de comunicação. Como dou detalhes das histórias e aponto as testemunhas, quem quiser comprovar a veracidade do que escrevi que vá lá e apure.
** Márcio Aith – Revelo que o editor-executivo da revista Veja saiu a campo um dia depois da reportagem que fiz com a secretária Fernanda Karina Somaggio na IstoÉ Dinheiro para "desmontar a maracutaia". Aith procurou algumas figuras importantes em São Paulo em busca de histórias que pudessem desqualificar o autor da reportagem. Saiu de mãos abanando.
** Alexandre Oltramari – O repórter de Veja, responsável por um dos furos da crise, aquele que apontou Marcos Valério como avalista do PT, participou de uma negociação com o Banco Rural. Oltramari pretendia ter acesso aos dados bancários de Valério e, como moeda de troca, prometia não publicar um suposto vídeo em que Delúbio Soares estaria achacando José Augusto Dumont, ex-presidente do banco. Os diretores do Rural se reuniram e decidiram não ceder. Julgaram que se tratava de um blefe, uma chantagem feita a partir de um vídeo inexistente.
** Lauro Jardim – O titular da coluna "Radar" é também citado no livro em razão de seu comportamento em 2004. Digo que ele foi leviano ao usar sua coluna para transmitir os recados da Polícia Federal sobre a chamada Operação Gutenberg, da qual eu seria o alvo principal. Tal operação visava apenas constranger os jornalistas que, ao contrário de Lauro Jardim, não estivessem dispostos a publicar o que a PF gostaria de ler na cobertura do caso Brasil Telecom. Os jornalistas insubordinados ao patrulhamento oficial estariam "vendendo reportagens".
** Policarpo Júnior – No livro, também aponto algumas ironias. Veja tentou me colocar sob suspeita perante o nosso meio profissional porque, supostamente, a Kroll poderia ser a fonte de algumas de minhas matérias. Meses depois, a CPI deixou claro que as principais fontes dos escândalos da Veja são os arapongas da Abin. Aliás, foi um deles que filmou o notório diretor dos Correios, Maurício Marinho, recebendo a sua "peteca" de 3 mil reais.
O inverso
Se a revista Veja estiver disposta a debater qualquer uma dessas histórias, estou à disposição. Mas já percebi, em outras oportunidades, que um diálogo franco, aberto e transparente não costuma agradá-los. Tudo bem. Cada um escolhe o seu caminho e que arque com as conseqüências.
Mas vejam quanta ironia. Eles é que se reúnem secretamente com o tesoureiro do PT e eu, um mero jornalista, é que estou à venda! Eles é que usam a chantagem como instrumento de barganha de "furos" e eu é que sou o negociante de notícias. Eles é que passam recados da Polícia Federal e eu é que sou ignominioso. Quem deve satisfações ao país não sou eu – é a revista Veja.
Ao que parece, Roberto Civita e seus editores não suportaram a idéia de ver meu livro entre os "mais vendidos" na categoria não-ficção da própria Veja, da revista Época, dos jornais O Globo e Folha de S.Paulo. Por isso, o jornalista Jerônimo Teixeira, que atua na área cultural da revista, decidiu na semana passada procurar a Siciliano, dona do selo Futura, para questionar se meu livro estava mesmo vendendo tanto. Por que será que Veja decidiu auditar as vendas de um único livro? Nem é preciso responder. Se um livro desagrada a Abril, como pode vender tanto?
Pois bem. A Siciliano respondeu que, na semana de 6 de fevereiro a 12 de fevereiro, a loja informou as vendas para os seus clientes e também para outras redes de livrarias. Isso aconteceu porque, em pouco mais de um mês, o estoque da editora Futura se esgotou. Uma edição de 5 mil exemplares, lançada no início de janeiro, está perto do fim. Se Veja acha que isso é pouco, tentarei fazer melhor da próxima vez.
***
O mais vendido
(copyright Veja nº 1944, de 22/2/2006)
"Investigado pela Polícia Federal por atividades ilícitas, o negociante de notícias Leonardo Attuch está envolvido em uma nova fraude. Há três semanas, um volume de ficção de sua autoria, intitulado A CPI que Abalou o Brasil, apareceu nas listas de mais vendidos classificado equivocadamente como não-ficção. Só isso já seria estranho. Mas, como tudo o que circunda o investigado, as zonas de sombra desse caso são mais densas do que parecem. Na semana passada, desconfiados de que o desonesto volume pudesse estar tendo suas vendas fraudulentamente infladas, repórteres de Veja foram investigar a correção dos dados enviados pelas livrarias. Bingo! Descobriu-se que a livraria Siciliano, dona do selo Futura, que publicou o indecoroso panfleto ficcional, fornecera à imprensa dados manipulados, jogando para cima as cifras de venda. Se elas ainda fossem referentes ao autor, vá lá. Mas ao livreco? Bem, o fato é que a vendagem do panfleto ignominioso (452 exemplares em uma semana) divulgada pela Siciliano – superior à de outras quatro grandes redes somadas ao longo de mais de um mês – era tão falsa quanto a produção do quadrilheiro que deve satisfações à polícia.
Veja pediu explicações à Siciliano. A resposta veio na forma de uma nota oficial: ‘Constatamos que houve um erro de informação na lista referente ao período de 6/2 a 12/2. Por um erro de cadastro no sistema, foram computadas, além das vendas internas (nas lojas Siciliano), as vendas para redes de livrarias e distribuidores. Isso ocorreu somente com o título A CPI que Abalou o Brasil’. Foram dados, portanto, como vendidos livros que estão apanhando poeira em estoques. A nota termina assim: ‘Favor considerar, como venda total nas livrarias Siciliano, 84 exemplares’. Com os dados corretos – ou seja, 368 exemplares a menos –, o volume ficcional não teria sido alçado a nenhuma lista de vendagem. Até que a fraude seja completamente esclarecida e a Siciliano, inocentada de cumplicidade com o novelista investigado que ela publica, Veja decidiu não computar os dados daquela livraria na elaboração de suas listas. Leonardo Attuch, porém, continua à venda."

Fonte: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=369JDB004
Acessado em: 08/11/2006 às 12:17h.

Escrito por Fábio Mário em 13:32 :