Se ter ética é ser imparcial...Acredito piamente que podemos tomar partido de algo e sermos éticos a um só tempo. É indiscutível que ao redigirmos uma notícia ou reportagem, já estamos "colocando as coisas nos devidos lugares". Sempre pensamos, consciente ou inconscientemente, o que deveremos priorizar. O que deve vir primeiro? A fala e o lado da empresa que não pagou direitos trabalhistas a seus funcionários, ou a fala e o lado dos próprios funcionários? A voz daquele trabalhador rural que teve que sair das terras na qual vivia há 20 anos ou do proprietário legal dessas terras? Bem, na hora em que escrevemos, nós sabemos, a partir de percepções que adquirimos ao longo de nossa formação (não vou citar o tipo de formação porque são tantas que provavelmente eu esqueceria ou não saberia de algumas) aquilo que será evidenciado, que ganhará ênfase.Esses casos citados acima apenas ilustram algo menor de uma realidade do dia-a-dia. Se podemos nos "posicionar" (porque parto do pressuposto de que se você prioriza e enfatiza um lado, está tomando partido) quanto a essas coisa que parecem menores, mas que, na realidade não são, por que não podemos tomar partido em questões mais polêmicas como aborto, eutanásia, partidarismo político e outras coisa mais?Creio que tomemos partido nesses casos, mas não admitimos isso. É impossível ser neutro. O que defendo é essa admissão. Fazer um jornalismo parcial, mas um jornalismo limpo, livre de hipocrisias. Um jornalismo que assuma o seu lado, assuma um posicionamento.O leitor que lê o jornal A o lê porque este se coaduna com seus princípios. A mesma coisa acontece com o leitor que lê o jornal B, o C, o D...Enfim, se existe linha editorial e se existe contrato de leitura que passo ainda daremos antes de resolver o nosso posicionamento? O leitor já sabe, então porque simplesmente não assumimos isso oficialmente?
Cássia Sousa